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sábado, 19 de dezembro de 2015

A última Entrevista concedida por João Guimarães Rosa

            Uma preciosidade histórica da língua portuguesa: a entrevista realizada pelo escritor e jornalista português Arnaldo Saraiva, em 24 de novembro de 1966. Guimarães Rosa morreria menos de um ano depois de tê-la concedido




Eis o homem. O homem que em menos de 20 anos, com sua prosa, seu estilo, sua literatura — sem os favores profissionais da medicina, que pode dar saúde mas ainda não deu gênio (cf. alguns prêmios Nobel), conquistou o Brasil, Portugal, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos, o mundo, não?
Repara no corpo: mau grado as ligeiras ameaças de obesidade, parece atleta, cavaleiro que foi, ou de bandeirante, que da língua é. Vê como está sobriamente elegante, distinto, sorridente, calmo, aristocrata, como convém a um embaixador (ou não estivéssemos num salão do Itamarati). Mas nada da pose ou dos gestos artificiais com que outros tentam iludir a mediocridade. Quem esperou quase quarenta anos para publicar o primeiro livro, ou quem avançou sozinho pelos grandes sertões da língua, não precisa ter pressa nem pedir emprestado um corpo, uma casaca, máscaras.
Lá está o lacinho (ou gravata-borboleta, meu chapa?) simetricamente impecável, fazendo pendant com os óculos claros, tão claros que ainda esclarecem mais os olhos sempre inquiridores, atentos. E é curioso como um mineiro de Cordisburgo, a dois passos (brasileiros) da Ita­­bira de Drum­mond, gosta, ao contrário deste (à primeira vista), de falar, de con­tar, de ser ouvido. Até nisso parece grande o seu amor à língua. Mal me sentei, já ele me começou a falar de Portugal e de escritores portugueses…

Guimarães Rosa — Estive em Portugal três vezes. Na primeira, em 1938, passei lá apenas um dia; ia a caminho da Alemanha. Na segunda, em 1941, passei lá quinze dias, em cumprimento de uma missão diplomática que me fora confiada em Ham­­burgo. Na terceira, em 1942, passei um mês, pois estava já de regresso ao Brasil, por causa da guerra.

Durante essas estadas, travou relações ou conhecimentos com alguns escritores?

Guimarães Rosa — Não. Até porque eu ainda não era “escritor” (“Sagarana”, com efeito, só foi publicado em 1946) e o que me interessava mais era contatar com a gente do povo, entre a quais fiz algumas amizades. Gosto mui­to do português, sobretudo da sua integridade afetiva. O brasileiro também é gente muito boa, mas é mais superficial, é mais areia, enquanto o português é mais pedra. Eu tenho ainda uma costela portuguesa. Minha família do lado Gui­marães é de Trás-os-Montes. Em Minas o que se vê mais é a casa minhota, mas na região em que eu nasci havia uma “ilha” transmontana.

Mas não chegou a conhecer Aquilino?

Guimarães Rosa — Conheci Aquilino (Aquilino Ribeiro), mas acidentalmente. Eu entrei numa livraria, não sei qual, do Chiado (presumo que a Bertrand) e, quando pedi al­guns livros dele, o empregado per­guntou-me se eu queria co­nhecê-lo, pois estava ali mesmo. Respondi que sim, e desse modo obtive dois ou três autógrafos de Aquilino, com quem conversei alguns instantes. Voltei a estar com ele, mais tarde, num jantar que lhe foi oferecido enquanto de sua vinda ao Brasil. Mas ele, naturalmente, não se recordava de mim (porque eu não me apresentara como escritor), e eu também não lhe falei do assunto.

Não sabe que, justamente numa crônica motivada pela sua ida ao Brasil, Aquilino colocou o seu nome, logo em 1952, ao lado dos de José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Agripino Grieco, que, segundo ele, eram os “notáveis escritores e poetas” que estavam a “encostar a pena contra a lava” que ia no Brasil “sepultando prosódia e morfologia da língua-mater”? Eu creio mesmo que é essa uma das primeiras referências ao seu nome, em Portugal…

Guimarães Rosa — Não sabia dessa curiosa referência do Aquilino. Antes dessa, porém, há uma referência a mim numa publicação do Consulado do Porto, de 1947, feita por não sei quem. Sei de outra referência feita, anos depois, salvo erro, por um irmão de José Osório de Oliveira.

Voltando a Aquilino: acha que recebeu alguma influência dele? Já, pelo menos, um crítico, o mineiro Fábio Lucas, notou alguns “pontos de contato nada desprezáveis” entre a sua obra e a de Aquilino.

Guimarães Rosa — Eu gosto de Aquilino, sobretudo da “Aventura Maravilhosa”, mas não creio que dele tenha recebido alguma influência, a não ser na medida em que sou influenciado por tudo o que leio. A verdade é que antes de 1941 só conhecia de Aquilino um ou dois trechos, co­mo infelizmente ainda hoje sucede em relação à quase totalidade dos escritores portugueses vivos. E, como sabe, “Sagarana”, foi escrito em 1937.

Um garçom do Itamarati entra com um copo de água, e pergunta se precisa mais alguma coisa. Guimarães Rosa agradece e diz: Vá com Deus, como se fosse um beirão ou um transmontano. Mais uma razão, portanto, para eu prosseguir: Como encara ou explica o enorme prestígio de que goza nos meios intelectuais e universitários portugueses?

Guimarães Rosa — Em relação a mim, houve por aqui (no Brasil) muitos equívocos, que ainda hoje não desapareceram de todo e que, curiosamente, ao que parece, não houve em Por­tugal. Pensaram alguns que eu inventava palavras a meu bel-prazer ou que pretendia fazer simples erudição. Ora o que sucede é que eu me limitei a explorar as virtualidades da língua, tal como era falada e entendida em Minas, região que teve durante muitos anos ligação direta com Portugal, o que explica as suas tendências arcaizantes para lá do vocabulário muito concreto e reduzido. Talvez por isso que ainda hoje eu tenha verdadeira paixão pelos autores portugueses antigos. Uma das coisas que eu queria fazer era editar uma antologia de alguns deles (as antologias que existem não são feitas, como regra, segundo o gosto moderno), como Fernão Mendes Pinto, em quem ainda há tempos fui descobrir, com grande surpresa, uma palavra que uso no “Grande Sertão”: amouco. E vou dizer-lhe uma coisa que nunca disse a ninguém: o que mais me influenciou, talvez, o que me deu coragem para escrever foi a” História Trágico-Marítima” (coleção de relatos e notícias de naufrágios, acontecidos aos navegadores portugueses, reunidos por Ber­nardo Gomes de Brito e publicados em 1735). Já vê, por aqui, que as minhas “raízes” es­tão em Portugal e que, ao contrário do que possa parecer, não é grande a distância “linguística” que me se­para dos portugueses.

Eu penso até que na imediata e incondicional adesão portuguesa a Gui­marães Rosa há muito de transferência sublimada de uma frustração linguística nossa, coletiva, que vem pelo menos desde Eça. Mas não nos desviemos. Admira-me muito que não tenha citado ne­nhum livro de ca­valaria, nem ne­nhuma novela bu­cólica, pois pensava que deles e delas havia diversas ressonâncias na sua obra, sobretudo no “Gran­de Sertão: Veredas”…

Guimarães Rosa — Sim, li muitos livros de cavalaria quando era menino, e, por volta dos 14 anos, entusiasmei-me com Ber­nardim (Bernardim Ri­beiro), e depois até com Camilo. Ainda continuo a gostar de Ca­milo, mas quem releio permanentemente é Eça de Queiroz (quando tenho uma gripe, faz mesmo parte da convalescença ler “Os Maias”; este ano já reli quase todo “O Crime do Padre Amaro” e parte da “Ilustre Casa de Ramires”). Camilo, leio-o como quem vai visitar o avô; Eça, leio-o como quem vai visitar a amante. Quando fui a Portugal pela primeira vez, eu só queria comidas ecianas (que gostosura, aquele jantar da Quinta de Tormes). Aliás deixe-me que lhe diga que me torno muito materialista quando penso em Portugal; penso logo nos bons vinhos, nas excelentes comidas que há por lá. E talvez seja também por isso que se há um país a que eu gostaria de voltar é Portugal…

… que, naturalmente, o receberá de braços abertos, em festa. Mas permita-me ainda uma pergunta: como “enveredou” — e penso que a palavra se ajusta bem ao seu caso — pelo campo da “invenção linguística?

Guimarães Rosa — Quando escrevo, não pen­so na literatura: penso em capturar coisas vivas. Foi a necessidade de capturar coisas vivas, junta à minha repulsa física pelo lugar-comum (e o lugar-comum nunca se confunde com a simplicidade), que me levou à outra necessidade íntima de enriquecer e embelezar a língua, tornando-a mais plástica, mais flexível, mais viva. Daí que eu não tenha nenhum processo em relação à criação linguística: eu quero aproveitar tudo o que há de bom na língua portuguesa, seja do Brasil, seja de Portugal, de Angola ou Mo­çambique, e até de outras línguas: pela mesma razão, recorro tanto às esferas populares como às eruditas, tanto à cidade como ao campo. Se certas palavras belíssimas como “gramado”, “aloprar”, pertencem à gíria brasileira, ou como “malga”, “azinhaga”, “azenha” só correm em Por­tugal — será essa razão suficiente para que eu as não empregue, no devido contexto? Porque eu nunca substituo as palavras a esmo. Há muitas palavras que rejeito por inexpressivas, e isso é o que me leva a buscar ou a criar outras. E faço-o sem­pre com o maior respeito, e com alma. Respeito muito a língua. Escrever, para mim, é como um ato religioso. Tenho montes de cadernos com relações de palavras, de expressões. Acompanhei muitas boiadas, a cavalo, e levei sempre um
caderninho e um lápis preso ao bolso da camisa, para anotar tudo o que de bom fosse ouvido — até o cantar de pássaros. Talvez o meu trabalho seja um pouco arbitrário, mas se pegar, pegou. A verdade é que a tarefa que me impus não pode ser só realizada por mim.

Guimarães Rosa vai buscar uma fotografia para me mostrar onde levava o caderninho de notas, nas boiadas: vai buscar uma pasta com a correspondência com um seu tradutor norte-americano, para me mostrar as dúvidas e dificuldades deste, e o trabalho, a seriedade e a minúcia com que as vai resolvendo uma por uma (escrevendo, ele próprio, preciosas autoanálises estilísticas ou considerações filológicas). E, entretanto, vai-me fazendo outras confissões interessantes. Por exemplo:  “gosto das traduções que filtram. Da tradução italiana do Cor­po de Baile gosto mais do que do original.” Ou: “Estou cheio de coisas para escrever, mas o tempo é pouco, o trabalho é lento, lambido, e a saúde também não é muita.” Ou: “Não faço vida literária: como regra, saio daqui e vou para casa, onde trabalho até tarde.” Ou: “No próximo ano, vou publicar um livro ainda sem título, com 40 estórias” (que têm aparecido quinzenalmente, no jornal dos médicos “O Pulso”, onde frequentemente aparecem também cartas ou a atacá-lo ou a defendê-lo ferozmente). Ou ainda: “eu não gosto de dar, nem dou entrevistas. Tenho sempre a sensação de que não disse o que queria dizer, ou que disse mal o que disse, ou que criei maior confusão; e não estou assim tão seguro do que procuro e do que quero. Com você abri uma exceção…”.


Nota: Entrevista realizada pelo escritor e jornalista Arnaldo Saraiva, em 24 de novembro de 1966. Publicada no livro “Conversas com Escritores Brasileiros”, editora ECL em parceria com o Congresso Portugal-Brasil.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015




... O Sertão está em toda parte. (GSV)


Uma vereda

Buritis
 
O sertão é do tamanho do mundo. (GSV)




"- Um homem não é mais forte do que um boi... E nem todos os bois obedecem sempre ao homem..."
Conversa de Bois conto do livro Sagarana.

Esbarramos num varjeado, esconso lugar, por entre o daGarapa e o da-Jibóia, ali tem três lagoas numa, com quatro cores: se diz que a água é venenosa. (GSV)

Cachoeira do Ribeirão Jiboia

A gente tem de sair do sertão! Mas s ó   se sai do sertão é tomando  conta  dele   a  dentro... (GSV)
 


Como aquele trecho da estrada fosse largo e nivelado, todos iam descuidosos, em sóbria satisfação: Agenor Soronho chupando o cigarro de palha; o carro com petulância, arengando; a poeira dançando no ar, entre as patas dos bois, entre as rodas do carro e em volta da altura e da feiúra do Soronho; e os oito bovinos, sempre abanando as caudas para espantar a mosquitada, cabeceantes, remoendo e tresmoendo o capim comido de-manhã.

Só Tiãozinho era quem ta triste. Puxando a vanguarda, fungando o fio duplo que lhe escorria das narinas, e dando a direção e tenteando os bois.

Conversa de bois – Sagarana.



Com a campina roxa brandamente, vagarosa por onde fomos, tocamos, querendo o poente e tateando tudo, chapada sem lugar de fim. (GSV)



Conciso já principiava a chuviscar, e eu estava pensando: que, por ali, menos longe, algum rancho ou alguma casa de sitiante havia de vagar. (GSV)


Seriam bem dez horas, e, de repente, começou a chegar - nhein... nheinhein... renheinhein... - do caminho da esquerda, a cantiga de um carro-de-bois. - Conversa de bois.














quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Um passeio por Cordisburgo

Painéis para xilografia usados nos livros de João Guimarães Rosa.
 
 
Uma das coisas mais belas que vejo na humanidade, é o gosto em  homenagear os berços de seus grandes escritores e personagens das grandes estórias da literatura universal.
Dublin é quase sinônimo  de Leopold Bloom e de seu criador, James Joyce.
Roken na Alemanha cultua a memória de Nietzsche;
Buenos Aires respira e vive Jorge Luis Borges;
Frankfurt cultua a “Goethe House” em homenagem ao escritor de Fausto.
Aracataca na Colômbia cultua seu mais ilustre nativo, Gabriel Garcia Marques.
É bom notar que nem sempre  é nas capitais ou nos grandes centros  que estão os berços dos gênios, que por meio de palavras, tornam o mundo um lugar mais belo.
No Brasil temos Cordisburgo, uma cidadezinha bucólica do interior de Minas Gerais, onde se pode almoçar em um restaurante chamado Sarapalha e se pode dormir em um hotel chamado Nonada. Uma cidade onde os moradores se orgulham de ser conterrâneos de “um chamado João”.
 

Neste post, estão alguns momentos do pitoresco “burgo” , não um qualquer,  mas um burgo do coração, “um Cordisburgo”.


 

 


Vista Parcial da cidade de Cordisburgo.

O sertão está em toda a parte.

Não importa os caminhos que trilhamos, as distâncias que vencemos, o sertão como disse João Guimarães Rosa esta dentro da gente. “Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que  o poder do lugar. Viver é muito perigoso...”

Trecho próximo a Andrequicé -MG

Araras  - Foto. R. Camargos
 
 

A velha máquina de escrever usada por João Guimarães Rosa, hoje exposta no museu em Cordisburgo. Foto. R. Camargos


Maquete do memorial à João Guimarães Rosa. Foto. R. Camargos


Interior da antiga casa da família de João Guimarães Rosa, hoje um museu em sua homenagem em Cordisburgo. foto: R. Camargos


Fachada da casa de seu Florduardo do Pinto Rosa, pai de João Guimarães Rosa. Foto: R. Camargos

Cozinha do morador do sertão, na Casa do Manuelzão
 em Andrequicé – Três – Marias/MG. Foto: R. Camargos
 

A singela Fachada do museu Manuelzão,
personagem das estórias e da história de João Guimarães Rosa. Foto: R. Camargos
 
 
Comitiva em que participou João Guimarães Rosa e que o inspirou muitas estórias.


Foto de Manuelzão na época em que inspirou personagens de João Guimarães Rosa.

Foto do Acervo do Museu do Manuelzão em Andrequicé-MG. 

João Guimarães Rosa - Acervo do Museu Manuelzão.




Visite o roteiro turístico João Guimarães Rosa, uma viagem no tempo e nas páginas do grande domador de palavras.


 
 

sábado, 1 de agosto de 2015

 

A fauna na obra de João Guimarães Rosa


Por influência do João:
 Um assomado de coisa que eu tenho por dívida com a lição da leitura, é o descobrimento de uma imensidão de bicho e planta ao derredor de onde vivo... o cerrado.

Mire e veja... sem aquela escrivinhação toda daquele doutor, eu podia hoje tá vivendo nesses ermos do Brasil Central sem ter sabença  de nome  e cor,  tipo de avuar e correr pelos matos desses bichinhozinhos que enfeitam esses campos de Deus.
Com muita humildade, sem abraçar um tiquinho de nada o tanto de bicho que o João descreveu e desenhou nos miolo da imaginação da gente, nas linhas que seguem, apresento um pouquinho dos bichos usando o palavrear escrito e dito no livro dele.

Pode ser que tenha um erro aqui outro acolá, pois sou meio lerdo no aprendimento das coisas, mas a intenção é homenagear o João.

Palavreado e retrato
 
Mas, melhor de todos conforme o Reinaldo disse-o que é o passarim mais bonito e engraçadinho de rio- abaixo e rio -acima: o que se chama o manuelzinho-da-croa.
 
Manuelzinho-da-croa- Batuíra de coleira - fonte:Worldbirds.com
 

– “É aquele lá: lindo!” Era o manuelzinho-da-croa, sempre em casal, indo por cima  da  areia  lisa, eles altas perninhas vermelhas, esteiadas  muito atrás traseiras,                                                                      desempinadinhos,   peitudos, escrupulosos catando suas coisinhas para comer alimentação. Machozinho e fêmea às vezes davam beijos de biquinquim a galinholagem deles. “É preciso olhar para esses com um todo carinho...” – o Reinaldo disse. P. 122 - 1986


Saiba o senhor, o de-janeiro é de águas claras. E é rio cheio de bichos cágados. Se olhava a lado, se via um vivente desses em cima de pedra, quentando sol, ou nadando descoberto, exato. Foi o menino quem me mostrou. P.87 - 1986

Cágado - Foto: R. Camargos

Cágado - Foto: R. Camargos
 
E tinha o Xenxém, que tintipiava de manhã no revoredo, o  saci-do-brejo, a doidinha, a gangorrinha, o tempo-quente, a rola-vaqueira... e o bem-te-vi que dizia, e as araras enrouquecidas.
Povi - foto: R. Camargos
 
Xenxém ou marreca caneleira - Foto: R. Camargos



Xenxém ou marreca caneleira - Foto: R. Camargos


Araras em pequizeiro - Foto: R. Camargos




... Assovios que fechavam o dia: o papa-banana, o azulejo, a garricha-do-brejo, o suiriri, o sabiá-ponga, o grunhatá-do-coqueiro. GSV-p.19-20 -1986
Suriri - fonte: Worldbirds.


 
 
 
Azulejo fazendo o ninho. foto: R. Camargos

 
Sabiá-ponga - Foto: R. Camargos

 

 “Escutei um barulho. Tocha de carnaúba estava alumiando. Não tinha ninguém restado. vi um papagaio manso falante, que esbagaçava com o bico algum trem.” P. 81 -1986
Papagaio domesticado. Foto: R. Camargos
 

Os quem-quem, aos casais, corriam,  catavam,  per meio   às  reses,  no  liso  do  campo  claro. Mas, nas árvores,  pica-pau bate e grita. E escutei o barulho,  vindo  do  dentro  do  mato, de um macuco sempre solerte. Era mês  de macuco ainda passear solitário macho e fêmea desemparelhados, cada um por si. E o macuco vinha andando, sarandando, macucando:  aquilo  ele ciscava  no  chão, feito galinha de casa. Eu ri – “Vigia este, Diadorim!” – eu disse; pensei que Diadorim  estivesse  em  voz  de  alcance.  Ele não estava. P. 253 - 1986

Quem-quem ou Quero-quero solitário. Fonte: R.Camargos


Quem-quem em bando.

Quem-quem ou Quero-quero solitário. Fonte: R.Camargos
 
Pica-pau - Foto R. Camargos
Macuco - Fonte: Wikipedia
 

Irara – ou Papa-mel.
Irara - fonte: Informativo do Vale
 
Irara ou Papa-mel - fonte: Procarnivoros.com

 
 

"se aquele bicho irara tinha jazido lá, então ali não tinha cobra. Tomei o lugar dele." p. 13 - 1986

 

Lontra.

“Perto de muita água, tudo é feliz. Se escutou, banda do rio, uma lontra por outra: o issilvo de plim, chupante.” P. 21 – 1986.

 
Lontra. fonte: funzel.org

 

Ariranha:
Ariranha: Fonte - Wikipédia.
 
 

- o rio é cheio de baques, modos moles, de esfrio, e uns sussurros de desamparo.  Apertei os dedos no pau da canoa. Não me lembrei do Caboclo-d’Água, não me lembrei do perigo que é a “onça- d’água”, se diz a ariranha essas desmergulham, em bando, e becam a gente: rodeando e então fazendo a canoa virar, de estudo. P. 88 - 1986

Sucuriú (sucuri)

Por lá, sucuri geme. Cada surucuiú do grosso: voa corpo no veado e se enrosca nele, abofa trinta palmos! Tudo em volta, é um barro colador, que segura até casco de mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de mãe-cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz de hora de poder água beber, esses escondidos atrás  das  touceiras  de  buritirana. P 22-1986

Sucuri - Fonte: Instituto Butatã



"Sucuriú agride de açoite, feito o relâmpago, pula inteira no outro bicho...Aquilo é um abalo! Um vê: ela já ferrou dente e enrolou no outro o laço de suas voltas, as duas ou três roscas, zasco-tasco, no soforçoso...O bicho nem grita, mal careteia, debate as pernas de trás, o aperto tirou dele o ar dos bofes. Sucuriú sabe o prazo, que é só para sufocar, tifetrije...Aí, solta as laçadas de em redor do bicho morto, que ela tateia todo, com a linguazinha. Começa a engolir..." Tutaméia - Como Ataca a Sucuri - p.32-33 -1967 


 
Ah, e cobra? Pensar que, num corisco de momento, se pode  premer  mão numa rodilha  grossa de cascavel, numa certa morte dessas. P. 178 - 1986

 
Dois momentos de uma cascavel. Fotos: R. Camargos 


Acontecendo tudo com risadas e ditos amigos como quando com seu arreleque por-escuro uma nhaúma devoou, ou quando eu pulei para apanhar um raminho de flores e quase caí comprido no chão, ou quando ouvimos um him de mula, que perto pastava. P.124 – 1986




 
Voo da Nhaúma em muitos lugares chamada de Inhumas. Foto: R. Camargos
Fonte: Panoramio.com

Nhaúma - Foto R. Camargos




 

As garças, elas em asas. O rio desmazelado, livre rolador. E aí esbarramos parada, para demora, num campo solteiro, em varjaria descoberta, pasto de muito gado. P.250 - 1986

Garça Branca - foto R. Camargos
 

coruja

Na noite Bebelo saiu, engatinhando por mais escuro, e revestido com as roupas bem pretas que arranjou, dum e doutro. Ele devia de ter ido até longe, como rato em beira de paiol – que coruja come. Queria era farejar com os olhos o reprofundo. P. 306- 1986

Coruja barranqueira - Foto R. Camargos

 
Corujas - Foto R. Camargos
 

Seriema e outros bichos

“Mas levei minha sina. Mundo, o em que se estava, não era para gente: era um espaço para os de meia-razão.  Para ouvir gavião guinchar ou as tantas seriemas que chungavam, e avistar as grandes emas e os veados correndo, entrando e saindo até dos velhos currais de ajuntar gado, em rancharias sem morador? Isso, quando o ermo melhorava de ser ermo.”  GSV- P.275 – 1986
 
Seriema Foto: R. Camargos

 






 
Seriema: Fotos de Mirian Cássia


Seriema: Fotos de Mirian Cássia


Emas, substituíram os campos pelas lavouras. Foto: R. Camargos


 

 
 
A chapada é para aqueles casais de antas, que toram trilhas largas no cerradão                                                                                                                                                                     por aonde, e sem saber de ninguém assopram sua bruta força. Aqui e aqui, os tucanos senhoreantes, enchendo as árvores, de mim a um tiro de pistola – isto resumo mal. Ou o zabelê choco, chamando seus pintos, para esgaravatar terra e com eles os bichinhos comíveis catar. 275.
Tucano. Foto: R. Camargos
Tucano. Foto: R. Camargos


Anta: Instituto ecoação


 



As garças é que praziam de gritar, o garcejo delas, e o socó-boi range cincerros, e o socó latindo sucinto. Aí pelo mato das pindaíbas avante, tudo era um sapal. Coquexavam. De tão bobas  tristezas, a gente se ria, no friinho de entrechuvas. P. 257 - 1986
 


O socó-Boi. Foto: R. Camargos

O socó-Boi. Foto: R. Camargos