Um entardecer no vale do Urucuia |
A obra de João Guimarães Rosa está repleta narrações astronômicas, não da maneira dos cientistas, mas à maneira do sertanejo, do caboclo, do homem rústico dos campos gerais.
O SEJUÇU
No conto “Meu tio Iauaretê” o sejuçuou setestrelos é mencionado
algumas vezes pelo caboclo, que vê a si
mesmo naquela constelação, a sétima
estrelinha, aquela que seu interlocutor não consegue ver.
[....]
eu nasci em tempo de frio , em hora em que o sejuçu
tava certinho no meio do alto do céu .
Mecê olha , o sejuçu tem quatro estrelinhas; mais
duas. A' bom : cê
enxerga a outra que
falta ? Enxerga não ? A outra ‑é eu ... Mãe minha
me disse.” (p. 186).
Muitos estudiosos da obra de João Guimarães Rosa afirmam que
o sejuçu e o “setestrelos” são o mesmo grupo de estrelas, ou seja, fazem parte
da mesma constelação.
Nesse caso o sejuçu seria as Plêiades, um aglomerado de
estrelas que faz parte da constelação de Touro.
As plêiades podem ser avistadas no hemisfério sul, entre os meses de setembro até março.
As plêiades podem ser avistadas no hemisfério sul, entre os meses de setembro até março.
No hemisfério sul, a constelação de Touro é uma constelação
do calor, assim como a de Órion, em oposição à constelação de Escorpião que é
do frio por assim dizer.
No sertão, porém, até hoje, os moradores chamam o período de
chuvas (verão) de inverno, se diz, por exemplo, quando as chuvas se prolongam,
que invernou.
O sejuçu, segundo Silveira
Bueno em Vocabulário tupi-guarani/português, Seixu é a abelha-mestra ,
a produtora do mel . Indica aos índios a época de tirar o mel “furar o mel”.
Coincide com o início das chuvas e o aparecimento
da constelação das Plêiades ou do Sete-estrelo e os indígenas ,
em algumas tribos ,
tomavam estes dois acontecimentos como
o início do ano .
NO GRANDE SERTÃO VEREDAS
...Decidi o tempo – espiando para cima, para esse céu: nem o
setestrelo, nem as três-marias, - já tinham afundado; mas o cruzeiro ainda
rebrilhava a dois palmos, até que descendo. (p. 599) 370 (38 impressão 1986)
Foto. Leonardo Valladão |
Foto. Leonardo Valladão |
... O setestrelo, no poente, a uma braça: devia de regular
uma nove horas. (p502) 1986
A noite breava própria; o mais escuro ia ser regulando em
antes das dez horas, que quando depois
podia subir um caco de lua. (p. 304) 1986
Saiba o senhor, pois saiba: no meio daquele luar, me lembrei de Nossa Senhora. (p. 325) 1986
Lua crescente no noroeste de Minas Gerais. Foto: R. Camargos |
Vai, viemos,
viemos. Esses dias em ondas. Sei só as encostas que subi, a festo. O Chapadão:
céu de ferro. E era a lua-nova. Aquelas pedras brancas, que de noite tanto
esfriam. As caraíbas estavam dando flor. (p.409) 1986.
Vão de noite, quando o mato pega a adquirir rumores de
sossegação. Ou quando luava, como nos Gerais dá, com estrelas. Luava: para
sobressair em azul de luz assim, só mesmo estrela muito forte. (p.482)1986
Quando luava assim, só mesmo estrela muito forte para brilhar. Foto: R. Camargos |
Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor
vá lá, na Jijujã. Vai agora, mês de junho.
A estrela-d´alva sai às três horas, madrugada boa gelada. É tempo de
cana. (p. 46) 1986
...e com eles nos ajuntamos, economizando rumo, num lugar
chamado o Bom Buriti. Me alembro, meu é. Ver belo: o céu poente de sol, de tardinha,
a roséia daquela cor... (p.269) 1986