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sexta-feira, 31 de julho de 2015

UMA BREVE BIOGRAFIA

João Guimarães Rosa nasceu na cidade de Cordisburgo, em Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908. Filho de Dona Francisca Guimarães Rosa e de Seu Florduardo Pinto Rosa. Cursou Medicina, e formou-se médico em 1930. Nessa mesma época, publicou seus primeiros contos, na revista O Cruzeiro. Exerceu a Medicina em Itaguara, município de Itaúna, e no 9º Batalhão de Infantaria de Barbacena.
Em 1934, Passa no concurso do Itamaraty  e vai para a então capital federal,  Rio de Janeiro.
 Em 1936 participa do concurso da Academia Brasileira de Letras, com a coletânea de contos chamada “Magma”, recebendo o Prêmio Literário da Academia. Foi Diplomata entre os anos de 1938 e 1944. Culto, sabia falar nove idiomas.

Sobre sua facilidade em aprender línguas, tornou célebre a entrevista que deu a uma prima  na qual se define como poliglota:

"Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração."

Os conhecimentos da língua tupi, foram amplamente utilizados  no conto "Meu Tio  o Iauaretê" publicado na revista Senhor em março de 1961 (nº 25). 

Em 1945 foi rever os lugares onde passou a infância. Em 1946 publicou "Sagarana".  O livro cujo lançamento era uma previsão do gênio literário que o Brasil veria conhecer.

Na deliciosa "Conversa de bastidores", uma crônica publicada em 1946 na revista A Casa (RJ) e escrita por Graciliano Ramos, ele narra  o concurso em que o "proto-livro" Sagarana foi derrotado pelo livro Maria  Perigosa de Luís Jardim, que naquele ano de 1938 levou o prêmio Humberto de Campos, promovido pela Livraria José Olympio.

Graciliano contou na época, que participaram do júri  além dele, Dias da Costa, Prudente de Moraes,  Marques Rabelo e Peregrino Junior. E que, a princípio, aceitara a incumbência de participar do júri meio a contragosto, uma vez que esse trabalho era uma chatice. "...disposto a não ler nada, jogar o trabalho sobre o resto da comissão. É o que pensamos ao tomar semelhantes incumbências"
continuou. "Que influi o meu parecer? Confio no juízo dos outros, voto com a maioria - e está acabado"
Mas, ao pegar para ler o livro de um certo Viator (o pseudônimo de João Guimarães Rosa) escreveu:
"aborrecendo-me assim, abri um cartapácio de quinhentas  páginas grandes: uma dúzia de contos enormes, assinados por um certo Viator, que ninguém presumia quem fosse. Em tais casos, rogamos a Deus que o original não preste e nos poupe o dever de ir até o fim. Não se deu isso: aquele era trabalho sério em demasia. Certamente de um médico mineiro, lembrava a origem: montanhoso, subia muito, descia - e os pontos elevados eram magníficos, os vales me desapontavam"  

Graciliano conta que depois de muita briga, discussão entre os membros do júri, ele e mais dois votaram no livro Maria perigosa e assim esse livro venceu o concurso.
No entanto, às vezes assaltava-lhe um "vago remorso" e desejava ver crescer aquele "Viator" e falava com o editor José Olympio que se cortasse alguns contos, poderia resultar dali um grande livro.
O que viria a ocorrer de fato, João Guimarães Rosa, cortou, modificou e publicou Sagarana em 1946, um livro que causou na época, certa comoção. Grandes escritores elogiaram, outros certamente o defenestraram. O livro tornou-se um sucesso de público e crítica e chegou aos dias atuais como um dos grandes clássicos da literatura brasileira.  


Em 1938, Guimarães Rosa é nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e na Europa conhece sua segunda esposa Aracy Moebius de Carvalho. Já havia se casado em 1930 com Ligia Cabral Penna, com quem teve duas filhas.

 Protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo, com a  ajuda da mulher, D. Aracy. Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher foram homenageados em Israel, no ano  de 1985, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um bosque em Jerusalém.

Com o rompimento entre Brasil e Alemanha, João G. Rosa foi detido em Baden-Baden, na verdade um balneário termal na Alemanha, mas mesmo assim era uma detenção. Ficou  junto com outros brasileiros, entre os quais o pintor pernambucano Cícero Dias. Posteriormente foram trocados por diplomatas alemães que estavam detidos no Brasil. 


Em  1945 retornou ao Brasil. hospedou-se na fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço da família Guimarães, então pertencente a seu amigo Dr. Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para Cordisburgo, sua terra natal.


Em 1946,  é nomeado chefe-de-gabinete do ministro João Neves da Fontoura e vai a Paris como membro da delegação à Conferência de Paz.

Em 1948,  volta a  Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à IX Conferência Interamericana.

De 1948 a 1950, o escritor encontra-se de novo em Paris, respectivamente como 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada. Em 1951 é novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves da Fontoura. Em 1953 torna-se Chefe da Divisão de Orçamento e em 1958 é promovido a Ministro de Primeira Classe (cargo correspondente a Embaixador).

 
Em 1951 reside em Paris. Em 1952 vista o estado de Mato Grosso, onde convive com os vaqueiros e escreve uma reportagem poética "Como o Vaqueiro Mariano", publicada no Correio da Manhã.

 Em 1956 publicou a novela "Corpo de Baile", com 822 páginas, e "Grandes Sertões: Veredas", narrativa épica, com linguagem inovadora que seria sua obra prima.

O livro que certamente colocou o Brasil na lista de países com grandes escritores. Atualmente importantes meios  de comunicação, como o jornal francês  Le monde, e o britânico The Guardian, enumeram o livro Grande Sertão Veredas como um dos 100 livros mais importantes da literatura universal.

Em 1963 João Guimarães Rosa é eleito para a Academia Brasileira de Letras, somente tomando posse quatro  anos depois.

O escritor faz seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada. Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Três dias após a posse, em 19 de novembro de 1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa).


Hoje a superstição do escritor tornou-se lendária, um homem de grande cultura, que rodou o mundo, deixava enraizado em seu âmago as superstições e pressentimentos, tais quais alguns de seus personagens.

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