Box Comemorativo do Grande Sertão: Veredas,
Um nicho em minha estante dedicado ao João. |
Em 2012 a Editora Nova Fronteira,
juntamente com a Saraiva lançaram um box em homenagem ao grande João Guimarães
Rosa. Esse box trazia um exemplar do Grande Sertão: Veredas, um exemplar de “A Boiada”, trata-se este,
daquele livro que todo apreciador da obra do João gostaria de ter. Nesse dito
livro “A Boiada” estão os manuscritos que o autor fez na célebre viagem pelo
interior de Minas em maio de 1952.
O título desse conjunto de escritos foram
batizados de A Boiada pelo próprio autor, que deu o nome de A Boiada 1 e A
boiada 2 para os “Datiloscritos”. Um
conjunto de palavras e frases soltas, aquilo que ele ouvia de seus companheiros de viagem e que
tomara nota em cima do lombo do cavalo.
Capa do livro A Boiada
|
Para os estudiosos da língua
portuguesa, uma ótima oportunidade de entender o processo criativo do grande
mestre. Para os “amadores” da obra de um chamado João é um deleite, um
regozijo. Dá para imaginar o próprio
autor escrevendo aquelas palavras
proferidas por homens simples, brutos, os cascas grossas na lida do
gado. Não é difícil para nós leitores modernos
sentir a poesia do falar sertanejo. Mas quem nos ensinou a apreciar isso
foi João Guimarães Rosa.
os manuscritos de João Guimarães Rosa durante a cavalgada de 1952 |
Ideias datilografadas |
O outro livro do box é também uma joia. Um apanhado de seis depoimentos sobre o João Guimarães Rosa. O primeiro
depoimento é de Antônio Callado que afirma que JGR é intensamente
autobiográfico, compara o conto Meu tio o iauaretê com a metamorfose de Kafka e
fala que quando leu Sagarana achou uma novidade na literatura. Callado diz que
João Guimarães, não era um escritor popular como Graciliano (Ramos), ou José
Lins do Rego, como Rachel, “ele era uma coisa fora do comum” é bom ver grandes
críticos e escritores falar exatamente aquilo que pensamos.
Coletânea de depoimentos |
Outro depoimento é dado pelo
grande crítico literário, que faleceu em maio deste instável ano de 2017,
Antônio Cândido. Cândido conta que por volta de 1945 quem lhe falou de JGR pela primeira vez foi o
Vinicius de Moraes. Vinícius disse que tinha um colega de Itamaraty que estava
escrevendo contos. Falou que era um tipo peculiar que escrevia como se
estivesse fazendo um trabalho científico, escrevia contos regionais e colocava
em fichário. Tinha ali, segundo
Vinícius, todo tipo de passarinho, acidentes geográficos, costumes etc.
Antônio Cândido conta que quando
saiu o livro Sagarana e disseram que era de um diplomata, ele disse “é o amigo
do Vinicius” Antônio Cândido sempre foi
considerado um crítico honesto e rigoroso e foi ele quem disse que ali naquele
livro tinha um conto que deveria entrar
para a galeria dos 10 maiores contos da literatura brasileira. O conto
era o magnífico “A hora e a Vez de Augusto Matraga”.
Cândido não é o único crítico a
dizer ou insinuar que provavelmente a obra de Euclides da Cunha possa ter
influenciado JGR. É fácil ter essa
impressão, a obra de Euclides também é muito detalhista e minuciosa quanto à
geografia, a fauna e flora, e o homem. Sertanejo, jagunço e místico.
Em outro depoimento Décio
Pignatari argumenta que Grande Sertão: Veredas, foi lançado junto com a poesia
concreta em 1956, um grande momento experimental da literatura brasileira. Pignatari ressalta que naquela época de
guerra fria, energia nuclear e Sputnik ,
Guimarães vem contar uma estória de uma paixão gay no sertão mineiro. Ele
critica o fato de as pessoas se recusam a ver essa questão do dilema dessa
paixão aparentemente homossexual na obra
de JGR. Riobaldo sofria com aquele carinho que sentia por Diadorim, isso fazia
parte da dualidade que permeia toda a obra. Devemos lembrar que no livro a
revelação do sexo de Diadorim só acontece no final. Durante toda a história,
Riobaldo acreditava se tratar de um jagunço.
O breve e delicioso livro ainda
traz depoimentos de Haroldo de Campos, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Santana.
Alguns desses depoimentos podem
ser vistos no YOUTUBE, somente depois de ler o livro é que vi esses depoimentos gravados, o que foi
emocionante em dobro.
Abaixo segue os links para assistir os depoimentos de Antônio
Cândido e Haroldo de Campos outro intelectual gigante desse nosso Brasil.
Depoimento de Haroldo de Campos
Depoimento de Antônio Cândido:
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