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domingo, 2 de julho de 2017

Box Comemorativo do Grande Sertão: Veredas,

Um nicho em minha estante dedicado ao João.

Box que contém os três livros




Em 2012 a Editora Nova Fronteira, juntamente com a Saraiva lançaram um box em homenagem ao grande João Guimarães Rosa. Esse box trazia um exemplar do Grande Sertão: Veredas, um  exemplar de “A Boiada”, trata-se este, daquele livro que todo apreciador da obra do João gostaria de ter. Nesse dito livro “A Boiada” estão os manuscritos que o autor fez na célebre viagem pelo interior de Minas em maio de 1952. 


Capa da edição especial do Grande sertão: veredas
O título desse conjunto de escritos foram batizados de A Boiada pelo próprio autor, que deu o nome de A Boiada 1 e A boiada 2 para os “Datiloscritos”.  Um conjunto de palavras e frases soltas, aquilo que ele  ouvia de seus companheiros de viagem e que tomara nota em cima do lombo do cavalo.




Capa do livro A Boiada


Para os estudiosos da língua portuguesa, uma ótima oportunidade de entender o processo criativo do grande mestre. Para os “amadores” da obra de um chamado João é um deleite, um regozijo.  Dá para imaginar o próprio autor escrevendo aquelas palavras  proferidas por homens simples, brutos, os cascas grossas na lida do gado. Não é difícil para nós leitores modernos  sentir a poesia do falar sertanejo. Mas quem nos ensinou a apreciar isso foi João Guimarães Rosa.
os manuscritos de João Guimarães Rosa durante a cavalgada de 1952

Ideias datilografadas

O outro livro do box é também uma joia. Um apanhado de seis depoimentos sobre o João Guimarães Rosa. O primeiro depoimento é de Antônio Callado que afirma que JGR é intensamente autobiográfico, compara o conto Meu tio o iauaretê com a metamorfose de Kafka e fala que quando leu Sagarana achou uma novidade na literatura. Callado diz que João Guimarães, não era um escritor popular como Graciliano (Ramos), ou José Lins do Rego, como Rachel, “ele era uma coisa fora do comum” é bom ver grandes críticos e escritores falar exatamente aquilo que pensamos.

Coletânea de depoimentos



Outro depoimento é dado pelo grande crítico literário, que faleceu em maio deste instável ano de 2017, Antônio Cândido.   Cândido conta que por volta de 1945  quem lhe falou de JGR pela primeira vez foi o Vinicius de Moraes. Vinícius disse que tinha um colega de Itamaraty que estava escrevendo contos. Falou que era um tipo peculiar que escrevia como se estivesse fazendo um trabalho científico, escrevia contos regionais e colocava em fichário.  Tinha ali, segundo Vinícius, todo tipo de passarinho, acidentes geográficos, costumes etc.

Antônio Cândido conta que quando saiu o livro Sagarana e disseram que era de um diplomata, ele disse “é o amigo do Vinicius”  Antônio Cândido sempre foi considerado um crítico honesto e rigoroso e foi ele quem disse que ali naquele livro tinha um conto que deveria entrar  para a galeria dos 10 maiores contos da literatura brasileira. O conto era o magnífico “A hora e a Vez de Augusto Matraga”.

Cândido não é o único crítico a dizer ou insinuar que provavelmente a obra de Euclides da Cunha possa ter influenciado  JGR. É fácil ter essa impressão, a obra de Euclides também é muito detalhista e minuciosa quanto à geografia, a fauna e flora, e o homem. Sertanejo, jagunço e místico.

Em outro depoimento Décio Pignatari argumenta que Grande Sertão: Veredas, foi lançado junto com a poesia concreta em 1956, um grande momento experimental da literatura brasileira.  Pignatari ressalta que naquela época de guerra fria, energia nuclear e  Sputnik , Guimarães vem contar uma estória de uma paixão gay no sertão mineiro. Ele critica o fato de as pessoas se recusam a ver essa questão do dilema dessa paixão aparentemente homossexual  na obra de JGR. Riobaldo sofria com aquele carinho que sentia por Diadorim, isso fazia parte da dualidade que permeia toda a obra. Devemos lembrar que no livro a revelação do sexo de Diadorim só acontece no final. Durante toda a história, Riobaldo acreditava se tratar de um jagunço.

O breve e delicioso livro ainda traz depoimentos de Haroldo de Campos, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Santana.

Alguns desses depoimentos podem ser vistos no YOUTUBE, somente depois de ler o livro é que vi  esses depoimentos gravados, o que foi emocionante em dobro.

Abaixo segue os links  para assistir os depoimentos de Antônio Cândido e Haroldo de Campos outro intelectual gigante desse nosso Brasil.

Depoimento de Haroldo de Campos

Depoimento de Antônio Cândido:


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